A princípio, o objetivo de Euclides da Cunha era apenas cobrir o conflito de Canudos (1896-1897) para o jornal O Estado de S. Paulo, que eclodiu entre os moradores da cidadezinha baiana, liderados por Antônio Conselheiro, e o recém-instalado governo republicano. Mas o autor acabou realizando um verdadeiro estudo sobre o Nordeste, tanto os aspectos naturais (fauna, flora, solo e clima, que estão na primeira parte do livro, "A Terra"), quanto sociológicos e culturais do homem sertanejo (presentes na segunda parte, "O Homem"). As quatro batalhas da guerra estão narradas na terceira parte, "A Luta". Hoje, essa obra é considerada por críticos literários como sendo o primeiro livro-reportagem brasileiro.
Esse livro é um dos mais importantes estudos do brasileiro por um brasileiro. Aqui, o sociólogo Gilberto Freyre, por meio de pesquisas em documentos de diferentes ciências, enfim cria munição contra as teorias racistas que vigoravam no país dessa época, que, por exemplo, diziam que o mestiço de branco e negro era biologicamente inferior. Freyre foi o primeiro intelectual a ver a miscigenação como uma das melhores características do povo brasileiro, cujo desenvolvimento deficiente deveria ser explicado por questões sociológicas e culturais, como a estruturação da sociedade entre a casa-grande dos senhores e a senzala dos escravos. Dessa forma, valoriza o indígena, o negro e o português como as matrizes da formação brasileira, por meio de linguagem poética. Mais um detalhe histórico importante: a obra foi publicada no mesmo ano da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha.
Fruto de mais de trinta anos de trabalho, esse estudo tem por objetivo responder a pergunta: "Por que o Brasil ainda não deu certo?" Apesar disso, é otimista, mostrando como a história, a miscigenação e a criatividade capacitaram os brasileiros a ocuparem um lugar de destaque no mundo. Por meio de ampla documentação e linguagem única, o livro passa em revista as agruras e resistência de indígenas e negros, com capítulos especiais para cada um deles, reconstituindo assim boa parte da história brasileira não oficial. Uma das suas melhores contribuições é a classificação de cinco tipos que compõem o povo brasileiro: o sertanejo, o crioulo, o caboclo, o caipira e o sulista.
Contribuição mais recente, essa pode ser considerada uma biografia não autorizada do Brasil. Ela agrega a esse debate o estudo da história a partir das micronarrativas do cotidiano do povo comum e assim consegue contar versões diferentes dos fatos oficiais que costumamos aprender na escola. A linguagem acessível e importante pesquisa iconográfica e de documentos que aparecem no livro causam imediata identificação com o leitor.
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